Pais e educadores, ao observar uma criança quieta
que não interage com outras crianças, não fazem perguntas aos professores ou não
conseguem dar respostas quando chamadas, podem achar que ela é muito tímida. No
entanto, isso pode estar escondendo um distúrbio emocional chamado mutismo
seletivo.
Importante lembrar que nos casos de mutismo
seletivo, a criança não escolhe não falar; ela se sente insegura em
determinadas situações ou com determinadas pessoas e por isso não fala.
Quando ocorrido na infância e passado despercebido
por pais e educadores e, por isso, não tratado, ao chegar na idade adulta pode
se transformar em fobia social, trazendo dificuldades nos relacionamentos
afetivos, sociais e no trabalho.
Pode ser percebido e identificado tão logo a
criança tenha desenvolvida a fala, o que costuma ocorrer por volta dos três
anos. Tendo adquirido mais vocabulário e com maior fluência na fala a criança
apresenta dificuldades na realização de determinadas atividades e interações
sociais.
O mutismo seletivo pode ocorrer por diversas
causas, como quando a criança sofre uma perda significativa, morte de um dos
genitores ou pela separação deles, por exemplo; de uma experiência negativa
onde se sentiu humilhada; por ter sofrido uma violência física ou sexual, como
nos casos de espancamentos e estupros. Problemas relacionados à dificuldade de
aprendizagem, à audição ou alteração cerebral também precisam ser consideradas
no diagnóstico, o que será importante para bem adequar o tipo de tratamento.
Em geral, dentro da família, onde convive
diariamente com as mesmas pessoas, a criança se comunica melhor, mas não tem
o mesmo êxito com amigos ou até mesmo parentes como primos e avós. Na escola apresenta
prejuízo social e educacional e essa perturbação ocasionada pela dificuldade de
comunicação é, geralmente, marcada por forte ansiedade.
Há crianças que parecem ter “preguiça” para falar e
se comunicam utilizando-se de sons e gestos. Quando a criança é ainda pequena
essa “preguiça” pode ser favorecida pela cumplicidade dos pais, que entendem o
que ela deseja e a atendem prontamente. No entanto, se a criança fala
normalmente em casa e diante de uma visita passa a se comunicar com gestos ou
até mesmos através da escrita, isso pode estar indicando a presença do mutismo
seletivo.
Além da ansiedade que é uma característica comum,
ainda se observam forte timidez, sentimento de vergonha ou medo de sentir
constrangimento, recusas frequentes para eventos sociais, comportamento leve de
oposição (diferente do TOD – Transtorno Desafiador Opositor), isolamento,
perfeccionismo e forte dependência dos pais.
É comum interpretar o mutismo seletivo como
timidez, mas também é um grande equívoco, uma vez que os tímidos podem depois
de algum tempo participar de conversas e interagirem, apesar do desconforto; já
quem sofre de mutismo seletivo simplesmente não consegue interagir e apresenta um determinado padrão de comportamento que é consistente e previsível.
É de grande importância não expor uma criança, adolescente
ou adulto que esteja dentro do quadro do mutismo seletivo às situações constrangedoras,
que em vez de ajudar trarão prejuízos ainda maiores. Também não é o caso de
dizer que “o problema está todo na sua cabeça” e agir como se fosse algo fácil para
a pessoa resolver.
Tratamento
a) Medicamentos: somente em casos graves e considerando também que os medicamentos atuam
no controle dos sintomas, mas não em sua causa, porém auxiliam o tratamento
psicoterapêutico.
b) Musicoterapia, arte terapia: desenvolve segurança em ambiente estranho.
c) Atividades prazerosas: desenho, pintura, ouvir música, quando feitas perto de pessoas
próximas em quem confiam ajuda no tratamento.
d) Psicoterapia infantil: inicialmente de forma individual e posteriormente em grupo. A atuação
do (a) profissional da Psicologia é com foco no cotidiano da criança e precisa
que os pais se comprometam com o tratamento, pois compreendendo a dificuldade
do filho (a) terão paciência, respeito e empatia para com ele (a).
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