segunda-feira, 3 de outubro de 2022

MUTISMO SELETIVO



Pais e educadores, ao observar uma criança quieta que não interage com outras crianças, não fazem perguntas aos professores ou não conseguem dar respostas quando chamadas, podem achar que ela é muito tímida. No entanto, isso pode estar escondendo um distúrbio emocional chamado mutismo seletivo.

Importante lembrar que nos casos de mutismo seletivo, a criança não escolhe não falar; ela se sente insegura em determinadas situações ou com determinadas pessoas e por isso não fala.

Quando ocorrido na infância e passado despercebido por pais e educadores e, por isso, não tratado, ao chegar na idade adulta pode se transformar em fobia social, trazendo dificuldades nos relacionamentos afetivos, sociais e no trabalho.

Pode ser percebido e identificado tão logo a criança tenha desenvolvida a fala, o que costuma ocorrer por volta dos três anos. Tendo adquirido mais vocabulário e com maior fluência na fala a criança apresenta dificuldades na realização de determinadas atividades e interações sociais.

O mutismo seletivo pode ocorrer por diversas causas, como quando a criança sofre uma perda significativa, morte de um dos genitores ou pela separação deles, por exemplo; de uma experiência negativa onde se sentiu humilhada; por ter sofrido uma violência física ou sexual, como nos casos de espancamentos e estupros. Problemas relacionados à dificuldade de aprendizagem, à audição ou alteração cerebral também precisam ser consideradas no diagnóstico, o que será importante para bem adequar o tipo de tratamento.

Em geral, dentro da família, onde convive diariamente com as mesmas pessoas, a criança se comunica melhor, mas não tem o mesmo êxito com amigos ou até mesmo parentes como primos e avós. Na escola apresenta prejuízo social e educacional e essa perturbação ocasionada pela dificuldade de comunicação é, geralmente, marcada por forte ansiedade.

Há crianças que parecem ter “preguiça” para falar e se comunicam utilizando-se de sons e gestos. Quando a criança é ainda pequena essa “preguiça” pode ser favorecida pela cumplicidade dos pais, que entendem o que ela deseja e a atendem prontamente. No entanto, se a criança fala normalmente em casa e diante de uma visita passa a se comunicar com gestos ou até mesmos através da escrita, isso pode estar indicando a presença do mutismo seletivo.

Além da ansiedade que é uma característica comum, ainda se observam forte timidez, sentimento de vergonha ou medo de sentir constrangimento, recusas frequentes para eventos sociais, comportamento leve de oposição (diferente do TOD – Transtorno Desafiador Opositor), isolamento, perfeccionismo e forte dependência dos pais.

É comum interpretar o mutismo seletivo como timidez, mas também é um grande equívoco, uma vez que os tímidos podem depois de algum tempo participar de conversas e interagirem, apesar do desconforto; já quem sofre de mutismo seletivo simplesmente não consegue interagir e apresenta um determinado padrão de comportamento que é consistente e previsível.

É de grande importância não expor uma criança, adolescente ou adulto que esteja dentro do quadro do mutismo seletivo às situações constrangedoras, que em vez de ajudar trarão prejuízos ainda maiores. Também não é o caso de dizer que “o problema está todo na sua cabeça” e agir como se fosse algo fácil para a pessoa resolver.

Tratamento

a)      Medicamentos: somente em casos graves e considerando também que os medicamentos atuam no controle dos sintomas, mas não em sua causa, porém auxiliam o tratamento psicoterapêutico.

b)      Musicoterapia, arte terapia: desenvolve segurança em ambiente estranho.

c)      Atividades prazerosas: desenho, pintura, ouvir música, quando feitas perto de pessoas próximas em quem confiam ajuda no tratamento.

d)      Psicoterapia infantil: inicialmente de forma individual e posteriormente em grupo. A atuação do (a) profissional da Psicologia é com foco no cotidiano da criança e precisa que os pais se comprometam com o tratamento, pois compreendendo a dificuldade do filho (a) terão paciência, respeito e empatia para com ele (a).